terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Televisão Portuguesa no seu melhor!

Hoje, após o meu almoço ligo a televisão e deparo-me mais uma vez com a SIC a "enfardarmo-nos" com mais uma das suas "milhentas" doses diárias de Floribella, com que nos brinda todos os dias, seja fim-de-semana ou feriado, a dita rapariga da franja e cabelos encaracolados, que ainda sonha com príncipes, todos os dias surge na minha televisão sem pedir licença.
Embora me comece quase que a habituar a ver aquele jovem rosto em cada minuto que a SIC proporciona aos seus telespectadores não consegui deixar de pensar que o dito canal televisivo deve estar a tentar fazer uma qualquer lavagem cerebral, cujo intuito ainda não descobri se será a moda das saias com tule ou se será, de facto, uma tentativa de que todos nós passemos então a falar com fadas, duendes e árvores. Será que a SIC tem algum contrato com as instituições de saúde mental? Embora saiba que é preciso empregar os profissionais desta área, parece-me que é ir um pouco longe de mais. Ou será que se trata de mais uma cabala, deste país tão cabalístico? Sim, vivemos num país cabalístico, senão reparem, todo e qualquer um que se veja envolvido num escândalo judicial ou social afirma tratar-se de uma cabala contra o próprio, desde o Carlos Cruz ao Dr. Pedro Santana Lopes.
Bem... Mas, hoje, deixarei cabalas de lado e falarei então do programa "Contacto" com que me deparei hoje de tarde, em que aparecia Luciana Abreu, mais conhecida como a Floribella. Num festival de disparates, em que a menina desde arrotar a fazer passos arrojados com uma bola de futebol, salientou-se a presença de uma menina que possui uma doença rara e, por ser diferente é muitas vezes discriminada pelas outras crianças.
Acho de louvar que crianças como a Ana Filipa sejam ajudadas por quem, de facto, pode e se além disso ainda lhe puderem concretizar sonhos tão simples como conhecer os seu ídolo, Floribella, mas por outro lado é lamentável explorar as carências, sentimentos e emoções de uma criança para se conquistar audiências. Será que a guerra de audiências não tem limites? Será que não percebem que podem aumentar a tristeza de uma criança que já de si se sente só por não ter companheiros de brincadeira a que todas as crianças têm direito? Será que a Floribella de tão bom coração que afirma ter não percebe que ao dizer a crianças como a Ana Filipa que sempre que precisar de um amigo pode contar com a Floribella cria-lhe falsas esperanças que uma criança que sinta a solidão precisa de acreditar piamente para continuar a sua caminhada, em busca da felicidade? Ou será que a Floribella estará lá sempre que a Ana Filipa precisar de um amigo para brincar, para conversar? Pois, eu cá tenho as minhas dúvidas!
Para se fazer uma criança feliz não é preciso mentir, nem recorrer a clichés que não passam disso mesmo, basta falar-lhes com o coração aberto porque elas só querem carinho e não clichés de gente que quer ficar bonita na foto. Ajudar não é levar as crianças á televisão e revelar as suas lágrimas e as suas dores. Ajudar não é expor. Ajudar não é mentir, nem que seja de forma caridosa.
A Ana Filipa podia sim conhecer o seu ídolo, mas usar isso para conquistar audiências parece-me vil e mais cruel ainda é alimentar falsas esperanças em crianças já de si carentes, pois qualquer criança carente ou não vai acreditar em qualquer promessa de amor que lhe seja feita até às últimas consequências e, de cada vez que se quebra uma destas promessas algo de bom, de puro, morre dentro desta criança. De todas as crueldades no mundo, troçar de credulidade de uma criança parece-me das piores. Uma criança que se sinta já rejeitada só tenderá a criar mais desconfianças em relação aos outros e ao mundo em que as rodeia, tornando-as mais inseguras e mais frágeis ainda. E é o poderoso efeito da televisão portuguesa, usar o sofrimento e a dor dos mais frágeis em prol da conquista de audiências.
Vivemos numa sociedade em que, infelizmente, só o sensacionalismo causa audiência, mas para mudar isto passa um pouco por todos nós, se começarmos por rejeitar o sensacionalismo a pouco e pouco ele deixa de ser usado para conquistar as audiências e a integridade de cada um é preservada, hoje foi a fragilidade da Ana Filipa que foi exposta amanhã poderá ser a de qualquer um de nós!

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